Alergias Alimentares na Infância Alimentação e Nutrição Infantil

Alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e a saúde infantil

Por Viviane Laudelino Vieira

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Alergias são quando nosso corpo apresenta uma resposta exagerada e incomum a uma determinada substância. Por isso, muitos espirram sem parar quando mexem em objetos empoeirados ou ficam com os olhos coçando e lacrimejando perto de um gato. Alimentos também podem dar alergia e um dos maiores causadores, entre os bebês, é o leite de vaca ou, melhor, à proteína do leite de vaca.
Estima-se que a APLV ocorra de 2,5 a 7,5% dos bebês, enquanto que outros 15% apresentam alguma reação adversa ao leite.

Qual a diferença entre APLV e intolerância à lactose?
Mais famosa e mais comum (entre adultos), a intolerância à lactose ocorre quando o corpo não digere a lactose, que é o açúcar do leite, causando flatulência, dor abdominal e diarreia. Ela é bem incomum entre crianças, principalmente entre bebês, porque, conforme envelhecemos temos maior predisposição a produzir menos lactase, a enzima que digere a lactose.
A APLV está relacionada ao sistema imunológico. Pode bastar um contato mínimo da pele com leite para desencadear uma reação que pode ser bem perigosa.

Quais os sintomas da APLV?
Eles são extremamente variados, o que costuma confundir bastante as famílias. Existem sintomas gastrintestinais, como regurgitação, vômitos, diarreia ou constipação e sangue nas fezes. Também pode ocorrer anemia, baixo peso ou dificuldade de ganho de peso, dermatite atópica, urticária e problemas respiratórios. Os sintomas podem ser observados tanto imediatamente após a ingestão de leite (são reações imediatas e normalmente esse tipo de alergia é mediado por uma imunoglobulina, chamada IgE) ou após dias e, eventualmente, semanas (reações tardias e não-mediadas pela IgE).
Como saber se meu filho tem APLV?
Existem exames sanguíneos e de fezes, que são utilizados pelos profissionais da saúde e podem servir de apoio na formação do diagnóstico, como a medição do IgE sanguíneo, o teste RAST ( que detecta, no sangue, anticorpos específicos a determinadas substâncias) e testes cutâneos. Porém, resultados negativos nem sempre afastam o diagnóstico de APLV (e mesmo os positivos precisam ser avaliados com cautela).
O teste de provocação oral é uma boa forma de se avaliar a APLV. O bebê é exposto à proteína do leite e, então, observa-se uma reação (que pode levar semanas para acontecer, se não for IgE medido). Dependendo do risco de sintomas, o teste é realizado em ambiente hospitalar.
Porém, uma entrevista completa e detalhada com a família é a forma mais importante para se entender a APLV, tendo em vista que vários sintomas, como diarreia, regurgitação e sangue nas fezes, podem ocorrer por outros motivos. É preciso evitar exclusões alimentares desnecessárias tanto ao bebê e à mãe por suspeitas não avaliadas profundamente, mas, também, ficar atento a problemas de saúde que não se curam e que podem estar relacionados a um diagnóstico de APLV negligenciado. Acesse aqui nosso texto que explica como se faz o diagnóstico da APLV.

Quais as causas?
As causas da alergia são variadas e nem sempre conclusivas. Sabe-se que pais alérgicos apresentam maiores chances de terem filhos com alergia. A exposição precoce ao leite de vaca também é um fator importante a ser considerado, sendo um grande estímulo para a promoção do aleitamento materno até os 6 meses e a introdução de leite de vaca a partir de 1 ano do bebê.

Como lidar com um bebê com APLV?
O ponto mais importante é cuidar da alimentação.
O bebê é amamentado? O ideal é que assim continue, dado que se sabe que o leite materno auxilia na saúde do bebê com APLV. Nesse caso, a mãe, muitas vezes, precisa fazer a dieta de restrição, pois as proteínas do leite de vaca ficam presentes no leite materno. Para o bebê que já usa outros alimentos, precisa-se tomar total cuidado para que ele não tenha contato com a proteína do leite de vaca.
Para não expor a criança (e a mãe) ao leite, não se pode utilizar nenhum alimento que contenha leite, iogurte, coalhada, queijos, requeijão, creme de leite, margarina (apesar de ser à base do óleo vegetal, a grande maioria contém leite), nata, leite condensado, gordura de leite. Além disso, muitos outros ingredientes podem conter leite, como: Lactoalbumina, Lactoglobulina, Fosfato de lactoalbumina, Lactoferrina, Lactulose, Caseína, Caseinato, Soro de leite, Proteína de leite hidrolisada e Lactose. Alguns outros nomes podem conter leite, como Corante / saborizante caramelo, Sabor de açúcar mascavo, Chocolate e Sabor artificial de manteiga.
Mais importante do que decorar esses nomes, é ficar alerta com produtos industrializados ou produzidos por terceiros.
Com relação aos produtos industrializados, a lista de ingredientes é uma boa aliada para obter essa informação. Porém, atualmente, nossa legislação não obriga o fabricante a indicar a presença de traços de leite no produto. Traços são substâncias que estão presentes em quantidades muito pequenas por não fazerem parte da formulação do produto, mas que podem ser nele inseridas por compartilhamento de maquinário ou por ter linha de produção próxima a algum produto que contém leite. Por exemplo, um presunto fatiado não deve ter leite, mas como pode ter sido fatiado na mesma máquina que cortou um queijo, ele pode conter traços. Para muitas crianças, é o suficiente para desencadear uma reação.
Para identificar os traços, é necessário contatar o fabricante pelo SAC e, preferencialmente, ter a resposta por escrito, em caso futuros problemas. Em breve, compartilharei informações de alguns fabricantes que já contatei.
Comer fora de casa também merece cuidado. Questionar o garçom, cozinheiro ou dono do estabelecimento é importante, sempre citando exemplo de substâncias que não podem ser ingeridas. Já destaco cuidado com alimentos que precisam de forma untada (por contar manteiga ou margarina), legumes cozidos na manteiga, carnes com molho. Algumas culinárias usam menos produtos lácteos, como japonesa, chinesa e portuguesa.
Esse cuidado com a alimentação, eventualmente, pode ser, inclusive, na utilização em separado de utensílios culinários (panelas, pratos, talheres, esponja) pois pequenas quantidades podem já gerar alguma reação.
Alguns casos, o bebê consegue tolerar alimentos com traços ou a proteína vinda do leite materno. Para saber isso, é necessário observar bastante os sintomas. E é bom enfatizar que se espera, normalmente, seis meses com restrição para se fazer um novo teste.
O importante é que quase todos os casos são revertidos na infância, principalmente até os 2 anos de idade. Isso é estímulo grande para ter cuidado na alimentação, pois, assim, o quadro tende a se reverter mais rapidamente.
No post “Um dia de descobertas“, eu falo um pouco da minha experiência com APLV.

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